Vale a pena importar da China? O Trabalho e os custos de uma inspeção de carga na China

Existe um estigma sobre os produtos que vem da China – de que eles são todos produtos baratos de baixa qualidade.  Entretanto, elas esquecem que os seus Iphones são todos fabricados por chineses. A China é a maior fonte de produtos manufaturados do mundo, desde produtos altamente tecnológicos (smartphones, reatores, aviões, etc) até os produtos mais básicos (arames, tecidos, etc). Existem fábricas top de linha, que produzem os produtos das maiores marcas dos mundo (marcas de luxo como Gucci, Prada, etc), e também as fábricas mais rústicas e rudimentares, que produzem os produtos baratos da lojas de R$1.99, que dão a fama para os produtos chineses – por isso, para se precaver e garantir o recebimento de produtos com qualidade, a realização de inspeção na qualidade da carga pré embarque (antes dela sair da China) é uma das formas mais eficientes para evitar problemas na importação da China.

Em qualquer lugar do mundo, se você quer um produto mais barato do mercado, vai haver algum tipo de trade-off, seja na qualidade do produto, no prazo de entrega, ou no serviço prestado pelo fornecedor. Na China, é a mesma coisa: você vai receber o produto pelo preço que foi pago. Caso você pressione a fábrica para descontos, eles podem até concordar, mas saiba que eles vão tirar este desconto de alguma forma durante a produção, seja utilizando materiais mais baratos e/ou cortando gastos com funções não essenciais como controle de qualidade. Por isso é essencial que importadores estejam sempre alertas sobre a qualidade dos seus produtos e identificar qualquer problema durante uma inspeção de qualidade, antes dele sair da China, enquanto ainda há tempo para consertos e o importador ainda tem alavancagem para negociar com a fábrica.

A China oferece 3 tipos de serviço: Bom, Barato e Rápido – mas você só pode escolher apenas dois de cada vez. Fonte: Quality Control Blog

O trabalho de um inspetor de qualidade exige a medição, observação e realização dos testes necessários para verificar se uma carga está de acordo com o combinado ou se está em desacordo do que os padrões desejados, e requer que eles tenham conhecimento sobre os conceitos de amostragem e estatística, para poder avaliar e interpretar os corretamente os resultados das inspeções.

Além disso o inspetor deve produzir relatórios de inspeção para análise do cliente, com as conclusões da inspeção. O inspetor também deve ser ético, pois já li muitos casos onde um inspetor deixa uma carga com qualidade duvidosa ser embarcada por conta do seu relacionamento com a fábrica chinesa ou mesmo por pagamento de uma propina.

Resumidamente, o custo de uma inspeção de carga inclui:

– O trabalho do inspetor: relatório de inspeção, a inspeção em si, comunicação com a fábrica e o cliente, envio de uma amostra finalizada para o cliente no Brasil, o tempo do inspetor – isto pode demorar alguns dias dependendo do volume do pedido.

– Treinamento do inspetor: como identificar defeitos, uso de estatísticas e amostragem, como produzir um relatório de inspeção, etc.

– Transporte (seja por trem, carro ou avião).

– Hospedagem: muitos pedidos requerem mais de 1 dia para serem inspecionados; além disso, dependendo do endereço da fábrica, pode-se demorar mais de 1 dia para chegar ao local da inspeção.

– Alimentação.

Entretanto, na minha opinião, o maior custo não é o valor gasto com a inspeção – mas sim o risco de identificar problemas na carga apenas após o seu recebimento no Brasil, depois que foram pagos todos os tributos e custos, e não fazer a inspeção na China, antes do pagamento do balanço do pedido (o método de pagamento padrão de pedidos na China é 30% depósito para iniciar a produção e 70% balanço antes do embarque da carga finalizada). Enquanto a carga ainda está na China, o importador brasileiro tem como negociar com a fábrica chinesa, já que ela ainda corre o risco de não receber o pagamento final. Mas depois que ela já está no Brasil e o pedido já foi pago e nacionalizado, o risco do fornecedor diminui muito, já que é muito caro devolver os produtos para a China e não é possível processar o fabricante (tribunais da China não acatam .

O risco de não fazer uma inspeção pré-embarque é identificar possíveis problemas com os produtos apenas no Brasil, quando o pedido já foi pago e é mais difícil devolver a carga para a China.

Um exemplo recente: um dos meus clientes não quis fazer a inspeção de carga de um pedido de USD 50.000, por ser de um fornecedor de longa data, e só pediu algumas fotos dos produtos finalizados. Após todo o processo de desembaraço e recebimento da carga, eles descobriram que um dos produtos do pedido veio com defeito (estava com o corpo do produto rachado, sem condições de uso) – resultado: USD 15.000 em sucata (sem contar os custos da nacionalização, impostos e transporte). No final, negociamos reparações com o fornecedor, entretanto isto poderia ter sido evitado se nós tivéssemos feito a inspeção da carga enquanto ela ainda estava na China, onde teríamos percebido este defeito e o consertado antes do cliente recebê-lo no Brasil.

No caso deste fornecedor, ja havíamos feito outras compras com eles e nunca havia dado problema antes, o cliente aceitou embarcar sem inspeção – mas também demonstra que o importador brasileiro que queira diminuir os seus riscos e problemas durante importações da China, deve sempre considerar a opção da inspeção de carga antes de sair da China, seja para fábricas novas ou parceiras antigas.

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